sábado, 25 de fevereiro de 2012

Por que não amor?

Essa gente que diz eu te amo, eu te amo
sem ao menos sentir que diz, sem ao menos notar que diz.
E pode ser, pode não ser, não existe só uma forma de amor.
Existe?
Pode-se dizer que te amo... Não?
Por que não amor?
Por que daria outro nome à alegria que sinto só de te ver?
E quando eu tento manter a pose, fingir que não, não ligar.
Ai desfaço-me, pois você me obriga.
Não consigo não virar criança diante da mais pura sinceridade da sua distração.
É condenável sentir prazer na sua presença?
Quando chega perto, arranja um motivo, fala sobre o tempo, atrasa minha vida.
Só pra estar perto, sentir a energia. E eu vou ficando mais um pouco. Quero te curtir.
Te quero pra mim de um jeito diferente, do jeito que só pode ser.
Aceito a condição. Só quero poder dizer que te amo.
Por que não amor?
Não é obsessão, como a maioria, nem é tampouco desejo... é um pouco.
É querer bem. Querer bem demais.
Eu já te disse que você é a pessoa mais legal do mundo?
E quando ao toque do seu corpo, discreto, puro, me faz sentir tão amada.
Tão... tão querida. Que me arrepia toda a vida. E me faz confiar de novo.
Então pergunto. Por que não amor?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O que nos impede de amar.

Depois de um dia inteiro de ociosidade e tédio, quando já não aguentava mais e todos os meus ameaços e tentativas de sair de casa tinham sido frustrados decidi que deveria pelo menos pegar um ar lá fora,ainda que o poluído ar da minha atual cidade.
Coloquei o fone no ouvido 4 reais e 75 cents no bolso e acendi um cigarro, sentei num canteiro em frente ao meu portão onde há algumas árvores, sentei debaixo de uma delas, estava escuro e o comércio já estava fechado. Ao som daquela levadinha e as palavras francesas que eu sei que são otimistas escorregando pelos meus ouvidos me senti mais calma, me senti sozinha, mas satisfeita. Um sozinho satisfeito. Pensei em um cara, pensei em ligar pra ele e chamá-lo para conversar, afinal ele é meu vizinho; subitamente senti um medo terrível de ter que conversar. Pensei em outro cara e em como seria bom estar com ele naquele momento, seria a pessoa certa. Mas como eu já disse estava me sentindo satisfeita.


Não tinha percebido nada ao meu redor quando uma funcionária da concessionária saiu, apressada, olhei pra ela e quis criar um contexto pra sua vida, desisti. Saboreei um pouco mais o que eu ouvia, uma outra mulher passou por mim, provavelmente voltando de um dia de trabalho, me olhou nos olhos alguns longos segundos, expressão calma, curiosa, senti que ela queria sorrir, eu também quis. Desisti. Ela se foi. De repente eu resolvi prestar atenção no que estava acontecendo e vi duas pessoas num ponto de ônibus e bem perto de mim alguns pedaços de papelão que deixavam a mostra os pés de uma outra pessoa. Senti forte e claramente naquela hora que todos estávamos na mesma. Exatamente na mesma melancolia. Eu, a mulher, a pessoa debaixo do papelão... E talvez todas as pessoas da Terra. Senti que os amava, pois compartilhamos dos mesmos sentidos, do mesmo funcionamento físico e psíquico.


 Então percebi o que muitos outros humanos já perceberam, que a maior incoerência dos seres humanos é guerrear entre si. Não somos inimigos, o inimigo é essa angústia da qual todos compartilhamos. A qual vencemos de vez em quando, a qual nos vence muitas vezes.
Andei um pouco, quando vi um homem provavelmente morador de rua com um saco na mão, provavelmente esvaziando lixos para vender material reciclável. Podia ser talvez a pessoa mais honesta do mundo, incapaz de fazer algo de ruim à alguém, mas mesmo assim me voltou aquela sensação extrema de medo que tenho sentido ultimamente, é uma coisa ruim que não gostaria de sentir por pessoa nenhuma. Mas foi tão intensa que não pude superar e acabei voltando para casa. Não consegui conter o choro antes de entrar.