Há dois meses do seu aniversário de 21 anos ele já se sentia a pessoa mais lúcida, menos favorecida e mais
inteligente do mundo. Mesmo tendo ciência de que não era. Fazia planos para o futuro mas eles se perdiam no
ar, pareciam tão incoerentes como qualquer outro sonho que tivera na infância; sabia que todos os dons estavam dentro dele e duvidava de todos.
Qualquer noite teve um sonho. Sonho recorrente. Caía num precipício e, para não estatelar-se no chão,
agarrava-se a cipós, o lugar era cheio deles, mas eles não eram firmes, se soltavam no momento em que se
agarrava fazendo com que ele tivesse de se agarrar a outro. Deste modo ele não caía, mas também não subia.
O sonho parecia ser sua condição de existência no mundo -ele pisicologisava- quando um dia resolveu contar
esse sonho para uma amiga de sua mãe, que olhou para ele com um sorriso vivido e tranquilo e disse: "O
sonho é somente um sonho, nada mais, a vida é que é real. Divirta-se."
Por um breve momento o guri pensou que aquela mulher fosse o grande amor da sua vida.