quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A função do outro.

Minha mente gira, gira, gira. Enquanto você se esconde tão profundamente.
Tento te agarrar firme para que não suma de vista enquanto os segredos do mundo, todos me são revelados.
E mesmo detendo todo o conhecimento de causas e efeitos, ainda assim, eu que sei tão bem que nada perdura ou me pertence, caio... caio feito um patinho na armadilha que eu própria arquitetei.
E você exibe tão perfeitamente essa segurança, que eu sei que é falsa, só não posso provar.
Mas deixe-me sentir com esta mesma segurança por pelo menos um amanhecer que são verdadeiros os acontecimentos e sentimentos sutis e recém sentidos.
Que são verdadeiras minhas próprias invensões e ações. Que me pertencem e me traduzem. E que tudo é puro, intenso e vivo. Tão penetrável e sensitivo como meu próprio corpo.
E depois, mesmo sorrindo para o tempo e aceitando cada revelação que ele traz, e até me divertindo com as gafes que ele comete, que mesmo assim eu possa entender que senti algo tátil e consequente de ações conjuntas. Não pensadas.
É paradoxal que essa vunerabilidade e confusão, ao mesmo tempo torne a vida ativa e tão passiva. Mas falar e até mesmo pensar em paradoxos soa culto demais pra quem quer só derramar em palavras todas as contrações musculares involuntárias causadas por acontecimentos simples e corriqueiros.
Então fico aqui, não acreditando nos meus próprios sentimentos e pensamentos, e até zombando deles como se dentro de mim vivessem várias, sensatas e insensatas.
Mas você fique tranquilo porque está agindo certo. Certo como se deve agir quando se é o outro. Apenas servir de protótipo para a invensão alheia. Apenas "outrar".

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Felipe

Ele parecia um cantor que eu gosto
parecia também que tinha me olhado
só parecia.
Mas eu olhei e isso valia.
Era verde sua camisa e por entre as árvores eu o via, não se camuflava.
Ele era gentil e de gentileza que se aqueceu tudo em mim e
eu disse o que a situação pedia. Eu disse qualquer coisa que se diria.
Eu sei seu nome e não o sobrenome e já era quase dia, aquela altura.
Ele só queria sair, eu só queria ficar
com ele.
De tudo que eu conhecia, tanto se diferenciava.
Tanto trato, tanto jeito. Em botafogo ele queria um chopp, eu queria muito mais.
Mas não podia, já era mesmo quase dia.
Depois rolou muita sinceridade e muito cheiro bom.
E num descuido, ele foi relapso eu fui... difícil.
E ele esqueceu, quis dificultar também.
Pra Copacabana ele fugiu, aí já era dia mesmo.
O sol à pino e ele dizia: já era de pegar onda.
Eu que tava completamente na sua onda esqueci de querer saber mais que o seu nome.
Depois da avenida movimentada tem um ponto de ônibus.

Coisa da minha cabeça

Será que é todo mundo igual a mim?
Será que todo mundo sente, e sente assim?
Não importa o que eu faça, o que eu tente fazer, ou o que eu pense em tentar.
A vida te coloca no patamar que ela quiser e você engole.
O peso da insignificância que representamos diante de algo tão maior.
Está fadado à isso? Estou?
Procura-se nome para essa indecisão
Depressão, ansiedade, mania de (não)perseguição.
E é num minuto que todo um dia feliz se torna só ilusão, só passado.
Lembrança dessa condição.
Não importa o que eu faça, ou quanto eu faça. Sempre estou no erro.
Você pode me dizer amigo, se você se sente assim também?
Procurando a si mesmo sem encontrar desde o dia que descobriu que não era o que é.
Tentando psicologisar e mapear o comportamento humano pra moldar seu personagem da vida real.
É triste ser obrigado a atuar fora de palco. E não é porque não se encontra no papel, é porque não se encontra no próprio interprete traços de autenticidade.
Tão mutável, tão banal. Tão, tão... Insatisfeito.
Procura em horóscopo, em livro, em religião.
Quando o que só importa é a conquista.
A conquista do ser-humano inalcansável. Inventado. Tão igual.
So fukin' igual.
Me diga , me diga amigo.
Você pode me entender?
Você pode me ajudar a sustentar esse único alicerce que é a ilusão de pensar que não sou o único que sente desse jeito?
Diga pra mim que é tudo coisa da minha cabeça, e que tudo que eu já tinha superado realmente era de se deixar pra trás.
Me diz que é coisa da minha cabeça que eu não confio nem um pouco nela.