Minha mente gira, gira, gira. Enquanto você se esconde tão profundamente.
Tento te agarrar firme para que não suma de vista enquanto os segredos do mundo, todos me são revelados.
E mesmo detendo todo o conhecimento de causas e efeitos, ainda assim, eu que sei tão bem que nada perdura ou me pertence, caio... caio feito um patinho na armadilha que eu própria arquitetei.
E você exibe tão perfeitamente essa segurança, que eu sei que é falsa, só não posso provar.
Mas deixe-me sentir com esta mesma segurança por pelo menos um amanhecer que são verdadeiros os acontecimentos e sentimentos sutis e recém sentidos.
Que são verdadeiras minhas próprias invensões e ações. Que me pertencem e me traduzem. E que tudo é puro, intenso e vivo. Tão penetrável e sensitivo como meu próprio corpo.
E depois, mesmo sorrindo para o tempo e aceitando cada revelação que ele traz, e até me divertindo com as gafes que ele comete, que mesmo assim eu possa entender que senti algo tátil e consequente de ações conjuntas. Não pensadas.
É paradoxal que essa vunerabilidade e confusão, ao mesmo tempo torne a vida ativa e tão passiva. Mas falar e até mesmo pensar em paradoxos soa culto demais pra quem quer só derramar em palavras todas as contrações musculares involuntárias causadas por acontecimentos simples e corriqueiros.
Então fico aqui, não acreditando nos meus próprios sentimentos e pensamentos, e até zombando deles como se dentro de mim vivessem várias, sensatas e insensatas.
Mas você fique tranquilo porque está agindo certo. Certo como se deve agir quando se é o outro. Apenas servir de protótipo para a invensão alheia. Apenas "outrar".
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